Digo
e repito: a culpa é dos Kantianos.
Justiça seja feita, foi um dos mais geniais e importantes
pensadores desde o nascedouro da civilização ocidental até os dias de hoje.
Provável que em toda a história da filosofia, uma estudioso não seja capaz de
encontrar obra tão importante ou mente tão brilhante quanto as desse professor
de origem humilde, filho de artesãos prussianos. Não, a despeito do que
geralmente se assume como verdade, Kant não era alemão, mas prussiano. E mesmo que
se argumente não existir, nos dias de hoje, uma “Prússia”, Kant nasceu em uma
cidade que agora faz parte da Rússia, e não da Alemanha.
E esse jovem professor de Königsberg é individualmente
responsável por tudo aquilo eu entendemos, hoje em dia, como limites e
barreiras do pensamento racional. Através das definições de juízos analíticos e
juízos sintéticos, Kant, indiretamente, divide o universo entre aquilo que
podemos e aquilo que não podemos, por definição, compreender.
Kant costumava dizer que David Hume, filósofo escocês
apenas 25 anos mais velho, o despertara do “sono dogmático”, influenciando
significativamente sua filosofia crítica. Mas em tudo quae se tem notícia, Kant
discordava de Hume, sem jamais abrir qualquer concessão.
Antes de qualquer
outra coisa, Kant era um crítico implacável e intelectualmente responsável. Em
não ter se preocupado em adequar seu pensamento àquele proposto por seus predecessores, acabou revolucionando a
história da filosofia, em especial em sua obra seminal “Crítica da Razão
Prática”.
Digo isso para deixar bem claro: a culpa não é de Kant,
filósofo e crítico exemplar. A culpa é dos Kantianos, a legião de seguidores que
o sucederam sem herdar, infelizmente, seu espírito crítico e revolucionário.
Immanuel Kant e seu maior e mais importante estudioso, Georg Wilhelm
Friedrich Hegel, foram responsáveis pela grande reviravolta filosófica
do pensamento moderno, e são merecedores, sem sobra alguma de dúvida, do título
de Pais ou Criadores daquilo que chamamos de, nas palavras de Jürgen Habermas, "filosofia
da modernidade por excelência".
Uma revolução filosófica, propriamente dita, não se
limita em apresentar novas respostas aos problemas existentes. Uma nova
resposta, ou uma resposta diferente, para uma dúvida antiga, por mais brilhante
e inovadora que seja, não passa de um exercício de refinamento e desenvolvimento
de um pensamento já existente, dentro de um paradigma e uma ontologia já
consolidados no pensamento filosófico.
Uma revolução filosófica, por suposto, sempre propõe a
substituição de um paradigma por outro, de maneira que não se dedica a
apresentar novas respostas para as mesmas questões. O que se muda em uma
revolução filosófica são as próprias perguntas!
E é exatamente isso que diferencia uma revolução de um
desenvolvimento: a revolução cria novos paradigmas, e não se interessa mais em
buscar respostas para os problemas do passado. Para se ocorra uma revolução
filosófica não necessário que se encontre respostas para as perguntas da filosofia
vigente, basta que se entenda que aquelas perguntas não são mais importantes, e
que os problemas já não são mais daquela natureza.
Como vínhamos dizendo, Kant e Hegel talvez sejam os
últimos filósofos relevantes do segmento temporal filosófico que se dedicou ao
estudo das questões importantes para a filosofia moderna.
Pouco
tempo depois, não mais do que 100 anos após a morte de Hegel, viria a nascer o
linguista Saussere, indivíduo responsável pelo desenvolvimento da linguística
como ciência autônoma e pela criação daquilo que veio a servir de base para o
pensamento estruturalista.
Na
mesma época vive Ludwig Joseph Johann Wittgenstein, grande responsável pela
virada linguística da filosofia, com enormes contribuições para a lógica,
filosofia da linguagem e filosofia da matemática.
E se
uma revolução começa a nascer, o parto é realizado por Martin Heidegger, no
começo do século passado. Sem sombra alguma de dúvida o mais importante
filósofo do período contemporâneo, Heidegger aponta a impossibilidade de
existência fora do tempo, e mais importante do que isso: desloca o foco do
universal para o individual.
Continua.